domingo, 22 de abril de 2018

Braga, na segunda metade do sec XX... história contada por Calendários de bolso (3)

Hoje vou apresentar um conjunto de calendários da extinta "Casa Grulha" (um incêndio, julgo que em 2004, terá de forma definitiva, terminado com a existência desta casa)
Considerando que apenas são apresentados calendários de 1974 (emitidos em finais de 1973) é possível que esta data esteja associada a uma mudança de proprietário/gerente por volta desta data.
 
Desde logo conclui-se que seria uma casa especializada nas famosas papas de sarrabulho, muito procuradas pelos forasteiros.
Que, no tempo em que ter um automóvel não era para todos, o turismo em Braga era feito muito à custa de grupos excursionistas (era frequente ver camionetas de excursão paradas no Campo da Vinha provenientes de outras paragens mais ou menos distantes - era esta a forma principal de conhecer o país).
Assim, era normal que os restaurantes e outras casas de pasto, tivessem como um dos principais alvos, estes grupos (atendendo ainda que para os residentes na cidade, contrariamente ao verificado nos dias de hoje, ir a um restaurante era um luxo a que muitos não podiam aceder). 
É também verdade que alguns destes grupos de excursionistas poderiam padecer do mesmo mal, isto é,  também não seriam muito endinheirados, situação em que o farnel era a alternativa mais económica e funcional.
Curioso que, parando as camionetas por norma no Campo da Vinha, a cidade nunca ofereceu a estes excursionistas um local digno e apropriado para estes degustarem os seus farnéis. Nesse aspecto a cidade de Braga não era muito convidativa.
Na ocasião era importante parar perto do centro da cidade (as paragens eram curtas e fosse para visitar a cidade, por regra o centro, ou para almoçar ou jantar, era preciso estar perto do centro e dos restaurantes).
Por isso o parque da Ponte, por exemplo, embora reunindo algumas das condições ideiais nunca foi muito utiizado como local de paragem destes grupos de excursionistas.
Os jogos de futebol, por serem sempre aos Domingos à tarde, proporcionavam uma boa ocasião de negócio, dado que os adeptos visitantes procuravam satisfazer os seus apetites gastronómicos tendo como alvo os pratos regionais, e aí as Papas de sarrabulho e os Rojões à moda do Minho levavam a dianteira.
É neste contexto que a Casa Grulha se situaria (beneficiando ainda de uma localização execepcional - meio caminho do centro da cidade para a estção da CP). 
De acordo com Evandro Lopes, um ilustre bracarense sempre atento, em comentário no facebook refere que a " Casa de Pasto o Grulha, pertencia a Alfredo Grulha embora quem estivesse à frente do negócio era a sua mulher, visto ele ter uma oficina de fabricação de roupa de trabalho na Rua Nova de Sousa...
Mais tarde foi passado à melhor cozinheira que tinham, a mulher do António Guimarães da família dos "Cerejas"  que era proprietário do café Académico, na Rua de S. Vicente." (teria sido por volta de 1973?)
Esta afirmação é confirmada com a indicação simultânea dos telefones das duas casas nos calendários que emitiam, culminando com um verso igual no calendário das duas casas, provando que estas foram casas irmãs, sendo referido António Soares Guimarães nos calendários do Café Bar Académico (algo que se vai repetindo ao longo dos anos seguintes).

 
Importa ainda referir que no calendário do Café Académico (casa suspeita!), em 1993 é referido que a Casa Grulha seria a Casa mais antiga da cidade. É possível que sim.


E em outros comentários de "facebookianos" bracarenses é possível obter algumas referências interessantes, de episódios envolvendo bracrenses, que por ocasião da II guerra mundial, partidários de uma facção, tinham por hábito frequentar também esta casa.

Face à importância desta casa para a história de Braga, e para que não caia no esquecimento, ficam pois por isso, um conjunto de outros calendários da "Casa Grulha", sempre fieis a um mesmo tipo de padrão.
A verdadeira história da casa, terá de ser contada por outros.   
 
 

 



6 comentários:

  1. Um restaurante onde fui algumas vezes que tinha um cliente que penso ser diário que era na altura um cidadão muito conhecido, sobretudo pela sua fisionomia. O sr.Salazar

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  2. Eu sou o neto da avó Amélia e do avô António, proprietários da Casa Grulha e Café Académico. Muito obrigado pela partilha deste fantástico artigo.

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  3. Enquanto familiares dos antigos proprietários, se quiserem contribuir com alguma nota especial, era interessante.

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  4. Ontem a minha avó contou-me uma história em que, tendo o irmão às portas da morte, ele estava com desejos de lampreia e a minha avó foi buscar de propósito à Casa Grulha. Pesquisei sobre o restaurante porque nunca tinha ouvido falar e aqui me deparo. Fico um pouco nostálgica de não conhecer tantos locais emblemáticos da cidade e da nossa história.
    Vânia

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