terça-feira, 22 de setembro de 2020

Artigo curioso... na imprensa amazonense (Brasil)

 Por vezes deambulando-se pela net, em busca de coisas várias, tropeçamos com algo que nos surpreende:

http://memoria.bn.br/DocReader/170054_01/108572

Extrato do “Jornal do Comércio” – 23/12/1973

Pg. 2 – Título da rubrica: Portugal, do Douro ao Tejo – II

“…

A área mais cosmopolita de Lisboa, foi numa das esquinas do Rossio, precisamente na butique “Caixote”, que encontramos alguém falando em… Manaus! Entráramos na casa em busca de alguns “souvenirs”. Dividíamos nosso interesse entre artísticos cinzeiros de latão com armas reais portuguesas em alto relevo e bonecas vestidas à moda das mulheres de Nazaré. Enquanto uma balconista nos satisfazia a curiosidade de estrangeiros, ao lado conversavam um homem e uma senhora, ele com ares de visitante e ela, de dona da loja. Entretidos assim, duvidamos dos nossos próprios ouvidos quando ouvimos a comerciante dizer algo como “Sr. Manaus”. Olhamo-nos, os três amazonenses, a um só tempo, e, sem combinarmos, partimos para cima do homem e lhe perguntamos o nome. Era aquilo mesmo.

                 Sabendo-nos daqui, o Sr. “Manaus” disse chamar-se Fernando de Sousa Braga, mas isso apenas no registro civil. Reside em Braga (a capital da província nortista do Minho), e se lá alguém perguntar por Fernando querendo encontrá-lo, desista: ele é só conhecido por “Manaus”, como já o é seu filho e como o foi seu pai, com quem nasceu o novo nome da família. Este se chamava Delfim de Sousa Braga até o momento em que, depois de vários anos no Amazonas, voltou à sua casa no Norte de Portugal. Isso aconteceu há cerca de cinquenta anos, quando era bem mais incomum um patrício retornar do Brasil, mormente de uma cidade chamada Manaus, que Delfim devia descrever com muitas cores e exclamações para os seus admirados conterrâneos. Desde então passou a ser identificado por “Manaus”, nome que Fernando pegou ao nascer e já transmitiu ao filho, “todos usando-o com muito orgulho e honra”, conforme ele frisa com solenidade no seu sotaque luso.

                Mas a história do singularíssimo nome não ficou aí, apenas identificando pessoas: quem, na capital minhota, for ao nr. 97 da Rua dos Chãos e olhar para uma placa existente acima da porta, encontrará a inscrição “Casa Manaus”, que é de Fernando de Sousa Braga, um compenetrado artesão e negociante de “souvenirs” para butiques como a “Caixote”, lá do sítio lisboeta e cosmopolita do Rossio, onde até amazonenses, vez por outra, podem parar.”

quarta-feira, 22 de julho de 2020

A história de Braga contada pelos calendários de bolso (XIII)

Regressando às postagens, hoje o tema é muito simples: A Bracalândia.
A Bracalândia foi um parque de diversões que ganhou alguma notoriedade na cidade.
Bem localizado, na Rodovia, onde hoje é o INL, fez a delícia de muita pequenada e alguma gente graúda.
Foi contemporânea da maior parte das pessoas, que terão certamente as recordações mais variadas sobre a matéria.
Foi um equipamento muito interessante que trazia muitos forasteiros à cidade e, por isso, parece que poderia ter havido um maior cuidado em facilitar a sua instalação noutra zona da cidade (uma vez que se mostrou impraticável a sua continuidade naquele local).
Muitas das vezes, o "esticar da corda", erros de cálculo, esperar que os poderes públicos, tudo ofereçam de "mão-beijada"  ou estes, "fechando portas", atirando tudo para a mão dos privados (tipo "desenrasquem-se"), muitas das vezes conduzem a resultados indesejáveis.
No comum dos bracarenses, sem acesso a todos os pormenores dessas eventuais negociações, parece que ficou alguma coisa por fazer. De quem foi a culpa? Não sei mas, normalmente quando ocorre um divórcio, a culpa está em ambas as partes.
A verdade é que desapareceu um equipamento interessante da cidade, que parecia ter já alguma consolidação e a empresa em causa, rumando a outras paragens, acabou por definhar, não tendo o sucesso que aqui chegou a ter. Ou seja, todos perderam: perdeu a cidade e perdeu a empresa privada.
Para memória futura, ficam aqui os últimos calendários do século XX que fizeram propaganda à "nossa" Bracalândia:










sexta-feira, 20 de março de 2020

A história de Braga, contada por calendários (XII)

Estava a reservar o tema da "Saboaria e Perfumaria Confiança" mais para o fim (esperando que pudesse aparecer alguma boa surpresa, no meio da saga digitalizadora; já lá vão mais de 14.500 e a expectativa é que a totalidade de digitalizações se aproxime das 20.000 - falta pouco).
Mesmo correndo o risco de aparecer algum calendário mais valioso, não consegui esperar.
E a razão que me fez "atacar" já foi o facto de ter lido o livro de Nuno Coelho, "Uma história de Confiança" que muito me agradou e que desde já recomendo a qualquer bracarense:

Assim, decidi assinalar este facto, apresentando os poucos calendários que, até este momento, se me depararam. 
O facto da Confiança ter tido, durante muito tempo, uma tipografia própria, seria expectável a existência de inúmeros calendários alusivos aos seus produtos, o que me faz acreditar que ainda possam aparecer.
Da leitura do referido livro, uma das coisas que me aprouve registar, no que toca à Confiança, foi que se trata realmente de uma empresa com uma rica história e que conseguiu chegar até aos nossos dias, com um percurso que teve momentos muito interessantes, tendo presente uma consciência social digna de ser registada. Ficou demonstrado que é possível obter bons resultados, valorizando o operário enquanto pessoa que tem a sua vida própria, as suas necessidade, etc. 
Para além disso, outro elemento digno de realce e que constituía quase uma imagem de marca, durante muitos anos, todo e qualquer produto por si fabricado, identificava sempre Braga, como local de produção, fosse qual fosse a entidade para a qual o produto fosse produzido.
Era eu miúdo e recordo-me perfeitamente quando, numa qualquer pensão ou hotel do nosso país, distante da nossa cidade, fui confrontado com um mini sabonete onde constava o nome do hotel e a menção "Confiança - Braga" e o efeito que isso em mim produziu: um orgulho enorme, ver o nome da nossa cidade ali tão perto. Já não tenho a capacidade de identificar onde foi, mas o efeito não esqueceu.  
A polémica que tem envolvido o belo edifício fabril onde durante muitos anos funcionou, e que marcou uma época, torna mais oportuna esta publicação, fazendo votos para que as entidades responsáveis sejam capazes de preservar este espaço, dando-lhe a utilidade adequada, sem desvirtuar o essencial. Acredito que haverá gente capaz para o fazer, prestando desde já o meu tributo àqueles que têm lutado por isso mesmo. 
Quanto aos calendários a apresentar, são relativamente recentes, alusivos a produtos da empresa, pelo que poderão não causar grande impacto, mas fica a promessa de actualização deste "post" logo que surja algo mais curioso (calendário ou não). Vai aparecer...


 
 




quarta-feira, 11 de março de 2020

A história de Braga contada por calendários (XI)


Uma das indústrias na qual Braga se destacou foi a fabricação de malas e artigos de marroquinaria.
Segundo consta terá sido no início do século XX que se terão instalado em Braga as primeiras empresas de produção de malas.
Uma das mais importantes foi sem dúvida a "Malas Ferreira" nascida em 1929 e que durou até 1997, sobre a qual poderemos mais à frente falar.
Mas, no caso presente, iremos falar sobre a "Francor". 
As malas Francor assinalaram o seu cinquentenário em 1985, pelo que é um dado adquirido que nasceram em 1935, tal como o calendário a seguir o documenta. Foram por isso contemporâneas e concorrentes com as Malas Ferreira, durante muitos e bons anos.
A Francor terá nascido por impulso de Francisco Gomes Correia, empresário bracarense, nascido na freguesia de Palmeira, em agosto de 1906, filho de "vendeiros" (assim reza o seu registo de batismo). 
A empresa toma a forma de sociedade em janeiro de 1973 sob a denominação "Francisco Gomes Correia & Filhos Lda", facto talvez motivado pelo falecimento da esposa Isabel Chaves em 1967.
Em 1972, assume especial relevância o moderno edifício fabril construído na Avenida Imaculada Conceição, que funcionou como sede da empresa até ao encerramento da atividade em julho/agosto de 2001, não conseguindo resistir à feroz concorrência. 
De referir ainda que, paralelamente, existiu ainda uma casa comercial no Largo Barão de S. Martinho, explorada pela família, onde eram comercializados artigos produzidos pela Francor.
Como memória ficou o edifício da Av. Imaculada Conceição, propriedade da família, que mereceu ser retratado em muitos dos calendários editados, não sendo contudo motivo exclusivo, como atestam os seguintes exemplares: 

Em 1986 e 1987:
 


     
Entre 1988 e 1992:

 
 


 

 





Posteriormente, foram ainda editados outros calendários, mais centrados nos produtos da empresa, deixando o edifício de aparecer, como por exemplo este conjunto de 1994:
 

A "Francor" foi assim uma prestigiada empresa, de razoável dimensão, que fez parte da história empresarial da nossa cidade, que teve um contributo importante para a economia da região e que merece, a meu ver, o devido destaque.

Haveria ainda certamente muita coisa a falar e eventualmente algo do que aqui foi dito, menos rigoroso, merecer alguma correcção. Ficará esse papel para aqueles que devido às suas relações, de amizade ou profissionais, com esta empresa ou família, possam e queiram contribuir com o seu conhecimento para que a sua memória não se perca. Os bracarenses certamente agradecerão...