terça-feira, 13 de dezembro de 2022

A história de Braga contada pelos calendários de bolso (XVIII) - Revitalização Urbana

   O Centro histórico de Braga, desde há muito tempo, tem sido alvo de inúmeras intervenções, seja ao nível da intervenção nos arruamentos quer seja ao nível do edificado.

   E ao nível do edificado tem-se verificado algumas intervenções que parecem não se enquadrar com a restante arquitetura envolvente, excedendo-se a volumetria construtiva anterior com evidente abuso, seja com a introdução de novos pisos superiores ou ocupando espaços anteriormente não edificados, ou ainda com a destruição total ou parcial da fachada na procura de soluções de gosto muito duvidoso.

   Noutros casos, situações muito mais consensuais, tem-se procurado preservar a estrutura e o aspecto original, soluções que economicamente poderão ter um custo superior e consequentemente uma menor rentabilidade mas em que a identidade citadina e concelhia não sai ferida do "confronto".

   Trago aqui um conjunto de belos calendários da Câmara Municipal de Braga, dos anos de 1991 e 1992, dando conta do trabalho realizado na reabilitação de algumas das casas situadas no centro histórico da nossa cidade e que, numa breve apreciação, parecem indicar o melhor caminho a seguir.

    Que estes exemplares possam contribuir para aguçar o bom gosto e o sentido crítico de todos os cidadãos, no sentido de preservar convenientemente os edifícios e a história da nossa cidade.  

 












sexta-feira, 11 de novembro de 2022

PALAVRAS e expressões de Braga e do Minho III

 Na sequência de "posts" anteriores, veio-me hoje à memória a utilização de outra palavra que parece não ter correspondência nos dicionários existentes, com a utilização que por aqui, se vai dando.

Estou a falar da palavra "Giroto", cujo significado apenas encontrei no site https://www.lexico.pt/giroto e que apenas será usado como regionalismo para as bandas transmontanas e com o significado que segue:

giroto

gi·ro·to

Significado de Giroto

giroto, (girô) adj. Prov. trasm. Que vai dar uma volta longe de casa: gallinha girota. (Cp. girote)

Pois bem, e afinal em que circunstâncias usamos nós esse termo?

Normalmente este termo era utilizado quando estávamos a referir-nos a uma rapariga, com idade de criança ou adolescente, um pouco mais corpulenta para a idade, comparativa a outras miúdas da mesma idade. E se fosse meio arrapazada, isto é, com modos e comportamentos mais próprios de rapaz, então esse adjetivo seria ainda mais apropriado. 

O mesmo termo podia ser ainda aplicado a qualquer outra criança, do sexo masculino ou feminino, que, com idade superior aos demais, gostava de brincar com os mais novos, envolvendo-se em brincadeiras próprias da idade inferior, destacando-se das restantes por ser um pouco mais velha que os demais. 

Não sei se algum dos leitores alguma vez empregou este termo e em que sentido. Mas que é termo que por aqui é utilizado é, disso não tenho dúvida. E vendo que não existe significado devidamente traduzido nos dicionários, atrevo-me a considerar a possibilidade de ser um termo eminentemente minhoto/bracarense.

Que acham?


PALAVRAS e expressões de Braga e do Minho II

Hoje surgiu-me a palavra "bichaneira" ou "bichaneiro". 

Analisando o sentido dado à palavra nos diversos dicionários online e em que medida e numa perspetiva de procurar perceber porque é que, nós bracarenses, adotamos essa palavra, a leitura que faço é a seguinte:

"Bichanar" é falar baixo, quase em segredo, em surdina, de acordo com algumas definições.

Poderá estar aqui a explicação para que o termo "bichaneira" ou "bichaneiro", aqui em Braga tenha evoluído por isso, no sentido, porventura algo depreciativo até, de identificar alguém que é um grande frequentador da igreja (muitas vezes de fortes convicções) e que poderá andar ou não, muito perto do clero de forma até aparentemente um pouco exagerada.

Poderá por isso ser normal ouvir, em qualquer rua de Braga, ou do Minho, alguém referir-se a alguma pessoa dizendo: Fulana é uma bichaneira, passa a vida "enfiada"na igreja.

Para além do termo também ser usado quando se pretende identificar alguém que, quase em surdina, em cochicho, fala da vida alheia, criando intrigas ou mexericos, parece-me que a melhor definição se situará mesmo na definição anterior.

Concordam? E já agora, será que podemos considerar uma palavra com uma definição e utilização própria bracarense/minhota?


bi·cha·nei·ra


(bichano + -eira)

nome feminino

[Popular]  Abertura ou registopor meio do qual os padeiros regularizam o calor do forno.


"bichaneira", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/bichaneira [consultado em 11-11-2022].

bi·cha·nar 

Conjugar

(bichano + -ar)
verbo intransitivo

1. Falar em voz baixaciciando as palavras.

verbo transitivo

2. Revelar segredo ou mexerico em voz baixa.


Sinónimo Geral: COCHICHARSEGREDAR


"bichanar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/bichanar [consultado em 11-11-2022].

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

PALAVRAS e expressões de Braga e do Minho I


    Há não muito tempo atrás, muitos de nós palpitávamos sobre a origem regional de qualquer pessoa, apenas pelo seu falar, pela sua pronúncia, mais ou menos carregada em algumas letras ou sílabas. E o grau de acerto desses mesmos palpites podia-se considerar elevado. Não que isso tenha desaparecido, de todo. Só que, parece haver uma menor expressão desse efeito, fruto de diversos fatores que aqui não interessa tratar, mas que são por demais evidentes.

    Quem se dedicar ao estudo da sua árvore genealógica vai reparar, por exemplo, que os casamentos, há umas boas dezenas ou centenas de anos, por regra, eram efetuados entre pessoas da mesma freguesia ou concelho, o que terá acentuado e criado em cada localidade, consoante fosse ou mais menos isolada das restantes, um dialeto (entendido como um conjunto de palavras e expressões) e pronúncias próprias. 

    Braga e a região mais próxima que a rodeia não terá sido exceção e por isso, pretendo abrir aqui um espaço sobre um conjunto de termos e expressões correntemente usadas em Braga e na região circundante que normalmente, pessoas de outras latitudes mais a sul, desconhecem o seu significado.

   Comecemos por um exemplo: se perguntarem a um lisboeta, como eu já fiz, se sabe o que é uma joga, ele vai dizer que não sabe o que é.

    Para qualquer bracarense, "jogas" não faltam na praia, nos rios, etc. Essas pequenas pedras roladas, ou seixos, como os lisboetas lhes chamam, para o comum dos bracarenses é uma joga.

    


   jo·ga |ó|

nome feminino

1. [Portugal: Beira, Trás-os-Montes]  Pedra redonda e lisaboleada pelas correntes dos rios.

2. Pedra que os rapazes atiram.


"joga", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/joga [consultado em 28-10-2022].

    Embora este dicionário refira como sendo um regionalismo (oriundo ou usado?) da Beira e de Trás os Montes, a verdade é que no Minho e particularmente em Braga, esse termo também é aqui usado.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

A história de Braga contada pelos calendários de bolso (XVII) - PIC PIC

    Outra casa emblemática de Braga foi o PIC PIC. Recentemente desaparecida era uma conceituada casa de pronto a vestir para homem, direcionada para um público médio alto. 

    Fundada em 1944 e que girava sob o nome oficial de "Vale Rego, Antunes & Cª. Lda", tinha um estabelecimento comercial nos números 49 e 51 da Rua do Souto.

    Na notícia publicada, em 1 de maio de 2021, pelo jornal online "O Minho" a dar conta da ocorrência do encerramento da empresa na sequência de um processo de insolvência, é possível ver alguns comentários de pessoas  que conheciam a casa e referem algumas situações curiosas, como por exemplo a existência de clientes que "gostavam de fazer figura de rico" e que depois podiam virar "caloteiros", ou o relato de um cliente que vinha do Porto para ali comprar a sua roupa, agradado pela forma como era tratado.

    Como recordação desta casa, este calendário do ano de 1966, desconhecendo se era ou não usual a edição anual de calendários por esta casa.

    




  

domingo, 3 de julho de 2022

A história de Braga contada pelos calendários de bolso (XVI) - Rendália

    A propósito da Feira do livro a decorrer em Braga e das inúmeras iniciativas integradas no programa, ontem chamou-me especial atenção o espaço dedicado ao projeto "Letras de Braga" que incorporou uma visita pelas ruas da cidade, chamando a atenção para muitas das imagens que existem e algumas que já desapareceram.

  Este meritório projeto, pelo que percebi, visa salvaguardar objetos e imagens que constituem a memória visual da nossa cidade Braga, com maior incidência nos reclamos, luminosos ou não, das casas comerciais.

    Porque se trata de matéria associada e complementar, tudo aquilo que procuro fazer nas publicações deste blog, assenta num mesmo princípio, salvaguardar as memórias da cidade, pelo que senti que, de forma mais modesta e singela, estou no caminho certo e, apesar das poucas contribuições que tenho recebido, vale a pena insistir neste espaço.

    E como um dos itinerários da referida atividade passou exatamente pela Rua do Souto, pude confirmar o desaparecimento da "Rendália", casa que durante muitos anos ocupou parte do nosso horizonte visual quando deambulávamos pela rua comercial mais importante da cidade. 

    Já há algum tempo que era para escrever algo sobre a Rendália, principalmente por ter em minha posse um calendário do ano de 1957, portanto com mais de 60 anos que, a meu ver, merecia relevo.

    É verdade que fui adiando a publicação sobre esta casa, na miragem de encontrar alguém que me pudesse dar a conhecer um pouco da sua história, para eu aqui a reproduzir. Mas a verdade é que tal nunca veio a acontecer.

    É que, mesmo nas pesquisas que fui fazendo, apenas sei que pertencia a um tal Sr. Ferreira (informação obtida no grupo "Memórias de Braga" do Facebook), imagino que não deveria ser sociedade, e as poucas pessoas que fui interpelando, toda a gente reconhecia a casa, mas na verdade, pouco ou nada dela sabiam.

    Lanço por isso aqui o calendário na esperança de que algum dos, poucos, seguidores deste blog, saiba alguma coisa sobre a matéria e queira ter a delicadeza de nos dar a conhecer alguma coisa desta casa.



    Curioso que em  http://arpose.blogspot.com/2010/05/ encontrei uma publicação que me atrevo a reproduzir, do que parece um caderninho do mesmo ano, que replica a mesma imagem. Este tipo de caderninhos singelos, muito comuns à época (recordo-me dos editados pela "Benamor" ou pela "Augusto Costa"), possuíam um conjunto de informações sobre a cidade.


    Parece que o ano de 1957 terá sido um ano especial, onde a casa terá apostado mesmo em se dar a conhecer. Seria o ano do início da atividade?

    Na internet, para além de algumas poucas referências, nada mais encontrei sobre esta casa e por isso mesmo, considero importante esta publicação para que este estabelecimento não caia no esquecimento.

    Fico então à espera...