sexta-feira, 26 de julho de 2019

Património da Humanidade


Património da Humanidade

Carruagens entorpecidas
Acordam tranquila manhã
Por escadas sobem vidas
Em busca de uma vida sã.

Árvores de ontem que chamam
Alegre e pura harmonia
Pássaros com filhos que amam
Uma distinta melodia!

Velho canudo se distrai
Com solitário pescador
Como um irmão que lá vai
Em santuário de esplendor

Acordes sineiros no ar
Em ambiente perfumado
Noivo e noiva, formoso par
Para o altar convidado

Tabuleiro cinza, em jogo
Uma pedra, santo e muar
Auroras, ocasos de fogo
Estranho rito p’ra casar

Frágil barquinho no lago
Oásis da navegação
Porque será que fica gago
Nas correntes da iniciação

Dum anão, obra sonhada
P’ra gigante executar
História, ao mundo contada
Daquele que nos quis salvar

Cálidas noites de verão
Ao longe, a cidade murmura
Brandas conversas em serão
Aromas tépidos, frescura

Na fuga da despedida
Tristeza de noite sem luz
Traço da camélia sentida
De Unamuno, em Vera Cruz

Os sete segredos guardados
Do nosso Éden pitoresco
Ao mundo, agora desvendados
Pelo canudo da Unesco

Solana

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Quando o S. João tinha a companhia da "AGRO"

Sempre me habituei a ver as festas de S. João na cidade de Braga, como um acontecimento marcante e que me proporcionava momentos de muita alegria e diversão.
Para os dias de hoje, para além de uma agenda muito diferente, realço aqui alguns aspetos que mudaram desde então.
Há alguns anos atrás era frequente ver na zona do mercado municipal e Campo da Vinha, dezenas de autocarros que traziam muita gente de várias zonas do país. Naquele tempo, olhava para as camionetas procurando identificar a sua origem e lembro-me ter ficado com a impressão que muitos desses forasteiros eram da zona da Guarda e Viseu.
Como o número de camas disponíveis (em hóteis, pensões, e casas particulares) não era suficiente para albergar toda a gente e a disponibilidade financeira para pagar uma cama era baixa, era um espectáculo digno de ser visto, a quantidade de pessoas que dormiam nos passeios, mesmo ao lado das camionetas, chegando muitas das vezes a invadir a própria Rua Abade da Loureira (na zona da Legião - actual Arquivo distrital). Era tanta gente que os passeios da Praça do Comércio eram insuficientes para albergar tanta gente. 
Em anos em que o tempo estava mais tremido, o espaço coberto na parte da frente do mercado estava sempre a abarrotar e mesmo assim havia quem, desafiasse o tempo, dormindo nos passeios descobertos ou nas malas das camionetas (que levantavam as "saias" permitindo aos forasteiros aproveitar aquele espaço coberto).
Nas festas de S. João sempre gostei do tradicional toque das bandas e das largadas de balões que me encantavam. A sessão de fogo preso na Avenida Central era outro momento alto, normalmente antecedida por um espetáculo de folclore, que me exasperava (nunca mais acabava e o fogo nunca mais começava).
Como qualquer miúdo, também gostava de ver a procissão, onde toda a gente comentava o tamanho do S. Joãozinho e se este teria muito ou pouco frio.
Nas festas de S. João, havia um outro evento que me empolgava. Era a AGRO que nas primeiras edições, embora com um lapso temporal maior, coincidia em parte com as datas festivas.
Na Agro, havia dois ou três pavilhões que me atraíam. Um era o pavilhão da Livraria Victor, sempre presente. Gostava de ver os vários livros expostos e nunca mais me esquece a satisfação em poder escolher um livro quando o meu pai sempre me dizia a mim e à minha irmã: "Escolhei um livro, cada um". Grande satisfação essa, que ainda hoje se manifesta quando entro em qualquer livraria. 
Outro pavilhão que eu me recordo de ver muito atentamente era o pavilhão da Câmara Municipal onde eram expostos muitos projetos, alçados de ruas, de fachadas a retificar de forma a uniformizar o aspecto das casas em cada uma das ruas. Recordo-me de ver o projeto para a Arcada, com o quarteirão todo fechado, prevendo a demolição das casas viradas para a Brasileira, a construção de torreões nos topos da Arcada e a demolição da casa que havia (e ainda há) no piso superior do café Viana. Com o 25 de Abril não mais vi esses "papéis" que a mim, então um miúdo com 10/12 anos me encantavam.
Fica aqui a referência ao S. João de 1977 último ano em que teve a companhia da "Agro". Desde 1978 que o calendário da "Agro" deixou de coincidir com o S. João, ajustando o seu calendário ao calendário agrícola e, consequentemente, às necessidades dos visitantes, facilitando a que se viesse a  tornar uma feira  internacional.
Recordo-me de, nesse ano, ter visto o desfile das máquinas agrícolas com toda aquela imponente maquinaria agrícola a subir a Avenida da Liberdade (o dia do fim da "Agro" coincidiu com último dia festivo).
Hoje em dia, há um acontecimento que sempre que posso, estou presente, que na ocasião nunca tive a oportunidade de acompanhar, que é a abertura solene das festas que a meu ver é um momento de uma beleza ímpar, único e  que qualquer bracarense devia valorizar.
Fica o desafio...

domingo, 26 de maio de 2019

A história de Braga contada por calendários de bolso (10) - A Portugália

Uma questão que tem merecido a minha reflexão e que nunca procurei esclarecer ( o que até poderá ser fácil, atendendo a que o estabelecimento ainda funciona) é a razão pela qual a "Portugália" no Largo da Senhora a Branca, deixou de o ser.
Será que naquele tempo já existiria um "franchising"; será que tal se deveu a uma utilização abusiva do nome  (ou que nunca foi registado) em que depois os legítimos proprietários do nome (novos ou velhos) reclamaram? Que terá acontecido?
O facto é que em 1979 o estabelecimento girava sob o nome "CERVEJARIA PORTUGÁLIA" e assim era conhecida, funcionando como ponto de encontro de muita gente.
De aspecto também não sofreu grandes alterações o que, mais ainda, vem tornar curiosa esta alteração.

Em 1995 ainda girava sob a mesma designação:

Em 2014, ainda sob a gerência de Jaime da Mota Pereira da Silva, usa o nome Cervejaria Sra-A- Branca.  Não sei quando terá mudado a designação, mas o facto é que ainda hoje é conhecida pelo nome Portugália,
 

quinta-feira, 9 de maio de 2019

A história de Braga contada por calendários de bolso (9) - O "Cabeça Negra"



Casa de Ferragens - Cabeça Negra

Recordo a sua existência no Campo da Vinha. Das várias lojas de ferragens aí existentes era, das que me lembro, a mais antiga. Amplo balcão de madeira gasta, sempre muita clientela e vários empregados a atender. 
Recordo ainda um empregado desta casa e quando era eu um miúdo e sempre que ia acompanhando os meus pais nas suas compras, era sempre muito brincalhão comigo. 
Sem perceber nada da vida e ainda menos das muitas dificuldades com que então as pessoas se deparavam, triste fiquei quando soube que esse tal empregado iria emigrar para a Alemanha. Ser empregado comercial, antes do 25 de Abril, a exemplo de muitas outras profissões, era um ganha-pão insuficiente para quem pretendia oferecer aos seus uma vida um pouco mais desafogada e com algumas ambições. E o comércio não seria seguramente o local mais indicado para obter a melhor compensação pelo trabalho desenvolvido. 
Mas voltando à casa em causa, o Campo da Vinha terá sido um local privilegiado para o aparecimento deste tipo de casas porque atendendo aos produtos que vendiam e à localização da feira semanal que chegou a ter lugar naquela grande praça, bem como era ali que grande parte das camionetas de carreira terminavam a sua viagem provenientes de outras paragens, estava criada a simbiose perfeita para que uma casa destas e todas as que ali se instalaram, nascessem, criassem nome e tivessem sucesso.  
Esta casa ficou ainda conhecida pelos bracarenses devido a algumas figuras, ainda contemporâneas, ligadas às modalidades amadoras, com maior expressão no andebol, no futebol de salão e no atletismo, que eram conhecidos pelos "cabeça negra" e que tinham um jeitaço para o desporto, em alusão a esta casa, de quem tinham uma relação familiar.
O fundador da casa foi José Vicente de Sousa Ribeiro e o seu imediato sucessor terá sido o seu filho Joaquim Estanislau que veio a falecer já em 1977.
Apenas encontro este calendário de 1985, que coincide com o último ano de actividade da casa e que por isso acaba por ter o seu valor histórico.
Pena que esta casa não tenha conseguido chegar a festejar o seu centenário e hoje, quem sabe, poderia ter outros incentivos para continuar, porque seria certamente marcada como uma loja com história, que mesmo assim, podemos dizer que foi.