Mostrar mensagens com a etiqueta OUTROS. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta OUTROS. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Artigo curioso... na imprensa amazonense (Brasil)

 Por vezes deambulando-se pela net, em busca de coisas várias, tropeçamos com algo que nos surpreende:

http://memoria.bn.br/DocReader/170054_01/108572

Extrato do “Jornal do Comércio” – 23/12/1973

Pg. 2 – Título da rubrica: Portugal, do Douro ao Tejo – II

“…

A área mais cosmopolita de Lisboa, foi numa das esquinas do Rossio, precisamente na butique “Caixote”, que encontramos alguém falando em… Manaus! Entráramos na casa em busca de alguns “souvenirs”. Dividíamos nosso interesse entre artísticos cinzeiros de latão com armas reais portuguesas em alto relevo e bonecas vestidas à moda das mulheres de Nazaré. Enquanto uma balconista nos satisfazia a curiosidade de estrangeiros, ao lado conversavam um homem e uma senhora, ele com ares de visitante e ela, de dona da loja. Entretidos assim, duvidamos dos nossos próprios ouvidos quando ouvimos a comerciante dizer algo como “Sr. Manaus”. Olhamo-nos, os três amazonenses, a um só tempo, e, sem combinarmos, partimos para cima do homem e lhe perguntamos o nome. Era aquilo mesmo.

                 Sabendo-nos daqui, o Sr. “Manaus” disse chamar-se Fernando de Sousa Braga, mas isso apenas no registro civil. Reside em Braga (a capital da província nortista do Minho), e se lá alguém perguntar por Fernando querendo encontrá-lo, desista: ele é só conhecido por “Manaus”, como já o é seu filho e como o foi seu pai, com quem nasceu o novo nome da família. Este se chamava Delfim de Sousa Braga até o momento em que, depois de vários anos no Amazonas, voltou à sua casa no Norte de Portugal. Isso aconteceu há cerca de cinquenta anos, quando era bem mais incomum um patrício retornar do Brasil, mormente de uma cidade chamada Manaus, que Delfim devia descrever com muitas cores e exclamações para os seus admirados conterrâneos. Desde então passou a ser identificado por “Manaus”, nome que Fernando pegou ao nascer e já transmitiu ao filho, “todos usando-o com muito orgulho e honra”, conforme ele frisa com solenidade no seu sotaque luso.

                Mas a história do singularíssimo nome não ficou aí, apenas identificando pessoas: quem, na capital minhota, for ao nr. 97 da Rua dos Chãos e olhar para uma placa existente acima da porta, encontrará a inscrição “Casa Manaus”, que é de Fernando de Sousa Braga, um compenetrado artesão e negociante de “souvenirs” para butiques como a “Caixote”, lá do sítio lisboeta e cosmopolita do Rossio, onde até amazonenses, vez por outra, podem parar.”

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Património da Humanidade


Património da Humanidade

Carruagens entorpecidas
Acordam tranquila manhã
Por escadas sobem vidas
Em busca de uma vida sã.

Árvores de ontem que chamam
Alegre e pura harmonia
Pássaros com filhos que amam
Uma distinta melodia!

Velho canudo se distrai
Com solitário pescador
Como um irmão que lá vai
Em santuário de esplendor

Acordes sineiros no ar
Em ambiente perfumado
Noivo e noiva, formoso par
Para o altar convidado

Tabuleiro cinza, em jogo
Uma pedra, santo e muar
Auroras, ocasos de fogo
Estranho rito p’ra casar

Frágil barquinho no lago
Oásis da navegação
Porque será que fica gago
Nas correntes da iniciação

Dum anão, obra sonhada
P’ra gigante executar
História, ao mundo contada
Daquele que nos quis salvar

Cálidas noites de verão
Ao longe, a cidade murmura
Brandas conversas em serão
Aromas tépidos, frescura

Na fuga da despedida
Tristeza de noite sem luz
Traço da camélia sentida
De Unamuno, em Vera Cruz

Os sete segredos guardados
Do nosso Éden pitoresco
Ao mundo, agora desvendados
Pelo canudo da Unesco

Solana

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Quando o S. João tinha a companhia da "AGRO"

Sempre me habituei a ver as festas de S. João na cidade de Braga, como um acontecimento marcante e que me proporcionava momentos de muita alegria e diversão.
Para os dias de hoje, para além de uma agenda muito diferente, realço aqui alguns aspetos que mudaram desde então.
Há alguns anos atrás era frequente ver na zona do mercado municipal e Campo da Vinha, dezenas de autocarros que traziam muita gente de várias zonas do país. Naquele tempo, olhava para as camionetas procurando identificar a sua origem e lembro-me ter ficado com a impressão que muitos desses forasteiros eram da zona da Guarda e Viseu.
Como o número de camas disponíveis (em hóteis, pensões, e casas particulares) não era suficiente para albergar toda a gente e a disponibilidade financeira para pagar uma cama era baixa, era um espectáculo digno de ser visto, a quantidade de pessoas que dormiam nos passeios, mesmo ao lado das camionetas, chegando muitas das vezes a invadir a própria Rua Abade da Loureira (na zona da Legião - actual Arquivo distrital). Era tanta gente que os passeios da Praça do Comércio eram insuficientes para albergar tanta gente. 
Em anos em que o tempo estava mais tremido, o espaço coberto na parte da frente do mercado estava sempre a abarrotar e mesmo assim havia quem, desafiasse o tempo, dormindo nos passeios descobertos ou nas malas das camionetas (que levantavam as "saias" permitindo aos forasteiros aproveitar aquele espaço coberto).
Nas festas de S. João sempre gostei do tradicional toque das bandas e das largadas de balões que me encantavam. A sessão de fogo preso na Avenida Central era outro momento alto, normalmente antecedida por um espetáculo de folclore, que me exasperava (nunca mais acabava e o fogo nunca mais começava).
Como qualquer miúdo, também gostava de ver a procissão, onde toda a gente comentava o tamanho do S. Joãozinho e se este teria muito ou pouco frio.
Nas festas de S. João, havia um outro evento que me empolgava. Era a AGRO que nas primeiras edições, embora com um lapso temporal maior, coincidia em parte com as datas festivas.
Na Agro, havia dois ou três pavilhões que me atraíam. Um era o pavilhão da Livraria Victor, sempre presente. Gostava de ver os vários livros expostos e nunca mais me esquece a satisfação em poder escolher um livro quando o meu pai sempre me dizia a mim e à minha irmã: "Escolhei um livro, cada um". Grande satisfação essa, que ainda hoje se manifesta quando entro em qualquer livraria. 
Outro pavilhão que eu me recordo de ver muito atentamente era o pavilhão da Câmara Municipal onde eram expostos muitos projetos, alçados de ruas, de fachadas a retificar de forma a uniformizar o aspecto das casas em cada uma das ruas. Recordo-me de ver o projeto para a Arcada, com o quarteirão todo fechado, prevendo a demolição das casas viradas para a Brasileira, a construção de torreões nos topos da Arcada e a demolição da casa que havia (e ainda há) no piso superior do café Viana. Com o 25 de Abril não mais vi esses "papéis" que a mim, então um miúdo com 10/12 anos me encantavam.
Fica aqui a referência ao S. João de 1977 último ano em que teve a companhia da "Agro". Desde 1978 que o calendário da "Agro" deixou de coincidir com o S. João, ajustando o seu calendário ao calendário agrícola e, consequentemente, às necessidades dos visitantes, facilitando a que se viesse a  tornar uma feira  internacional.
Recordo-me de, nesse ano, ter visto o desfile das máquinas agrícolas com toda aquela imponente maquinaria agrícola a subir a Avenida da Liberdade (o dia do fim da "Agro" coincidiu com último dia festivo).
Hoje em dia, há um acontecimento que sempre que posso, estou presente, que na ocasião nunca tive a oportunidade de acompanhar, que é a abertura solene das festas que a meu ver é um momento de uma beleza ímpar, único e  que qualquer bracarense devia valorizar.
Fica o desafio...

terça-feira, 5 de junho de 2018

Sporting Clube de Braga - Junho de 1953

Corria a época futebolística 1952/1953 e ficou o Sp. de Braga na penúltima posição do campeonato nacional de futebol da 1.ª Divisão, correndo sérios riscos de descer à 2.ª Divisão.
Na ocasião, o penúltimo calssificado da 1.ª Divisão e o 2.º classificado da 2.ª Divisão teriam de disputar um jogo para encontrar qual a equipa que jogaria na época seguinte na 1.ª Divisão.
O 2.º classificado da 2.ª Divisão foi o Torreense o qual teve assim que disputar com o Sporting de Braga o acesso à 1.ª Divisão.
O jogo realizou-se em Aveiro, a um Domingo, dia 28 de Junho de 1953 e do qual resultou um empate, mesmo após prolongamento.
Foi por isso necessário recorrer a um 2.º jogo, novamente em Aveiro, só que desta vez a uma terça-feira, dia de trabalho. Foi no dia 30 de Junho de 1953.
Conta a história que em Braga o comércio fechou e que uma cidade em peso foi para Aveiro apoiar o Sporting de Braga que, desta vez venceu por 2-1.
Foi uma jornada memorável para muitos bracarenses, à qual ficou indelevelmente ligado o então presidente da Câmara, António Maria Santos da Cunha...
Sem entrar em mais pormenores, porque certamente muitos já ouviram sobre este assunto muito mais que aquilo que eu poderei contar (ficando sempre a via aberta para quem nos quiser contar qualquer coisa de curioso), apresento aqui o aspecto da bancada do jogo dessa terça feira:

Perante o estado actual do futebol, com questínculas e intrigas sem fim, oxalá, na próxima época, o Sporting Clube de Braga possa tornar-se cada vez mais num oásis, verdadeiro exemplo do fair-play e uma referência do desporto português, lutando com  o seu engenho e força, sem violência e sem batotas, respeitando os seus adversários, e dessa forma, possa alcançar os seus objectivos desportivos, catapultando todos os verdadeiros braguistas para manifestações desta dimensão. 
Bom seria... 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Bom Jesus 1882

Na revista "Occidente" (nr. 121) com data de 1 de Maio de 1882, aparecem duas foto-gravuras interessantes sobre o elevador do Bom Jesus,  relatando um pouco da história do próprio elevador, de como surgiu.
Estas mesmas foto-gravuras foram recentemente disponibilizadas no folheto de grande qualidade evocativo dos 130 anos do elevador do Bom Jesus. Para contemplar...



Quanto ao texto, para os mais interessados, consta o seguinte:

"PLANO INCLINADO FUNICULAR NO BOM JESUS DO MONTE
(Subúrbios de Braga)

   Está assente sobre os flancos da pitoresca montanha, onde a paixão do redentor foi por mãos piedosas registada em numerosas capelas, onde os passos dolorosos da luta em favor do bem e do justo, estão ordenados segundo os grandiosos cantos que Jesus escreveu em letras de sangue no poema do seu divino sacrifício a favor da libertação humana.
   Poucos devem ter sido aqueles que visitando o nosso formoso Portugal, nas estações em que a natureza se anima, quando o sopro perfumado e tépido da brisa beija as flores do vale, ou perpassa fremente pela folhagem da floresta; poucos devem ter sido os que não tenham cedido ao convite tentador de visitar este delicioso jardim de Armida que se chama o Minho, e o seu recanto misterioso e privilegiado que se intitula o Monte do Bom Jesus.
   É um lugar encantador. Parece que a província zelosa da sua jóia mais peregrina, desejava furtá-la ao gozo do artista forasteiro, desviando a corrente que de um modo directo se dirigia a Braga, caso não se tivesse estabelecido alguns quilómetros a sul na estação de Nine, o entroncamento da linha férrea que atravessa o norte do país.
   É contudo tão notória a reputação de encanto vinculada ao Bom Jesus do Monte, que nenhum tourist, estrangeiro ou viajante nacional, deixa de torcer o seu itinerário para visitar este sítio; e a maior parte seduzidos pelas belezas que se lhe proporcionam, demoram-se tempos esquecidos quando apenas tencionavam descansar alguns instantes.
   É que o Monte do Bom Jesus difere hoje inteiramente do que era alguns anos já passados.
   As circunstâncias naturais no que tinham de grandioso conservam-se as mesmas; as suas águas tão celebradas são ainda tão puras e cristalinas como dantes eram; o ar oxigenado que banha a serra inteira fornece aos pulmões o mesmo elemento de vida e de saúde, como até agora fornecia; porém o sacrifício que muitos faziam para gozar estes tesouros, eram prejudicados pela interioridade de recursos e de comodidades que pelo contrário deviam emoldurar o quadro de vantagens que a natureza aqui lhes dispensava tão prodigamente. Era necessário que o devoto que viesse buscar aos pés do Bom Jesus do Monte, o consolo para as atribulações da alma, encontrasse no Monte do Bom Jesus o conforto para a saúde, que o convidasse a aproveitar, o quanto possível, os benefícios que se lhe proporcionavam.
   Existem hoje estas condições de bem estar, e com as andorinhas e a primavera um bando gentil e alegre pousa no cimo da montanha, e lá se conserva feliz e satisfeito, enquanto que o tempo se não conspira para lhe fazer novamente levantar o voo e despedir-se até à próxima estação, do lugar onde tantas saudades ficam espalhadas pelas flores do parque, e entre os carvalhos seculares do bosque.

   Aos esforços de dois homens empreendedores e inteligentes deve hoje o monte do Bom Jesus as causas vitais que lhe garantem uma próspera existência de futuro.
   Ambos eles são bem conhecidos; e Braga presta-lhes o pleito e a homenagem que aos benfeitores do progresso é de direito e de dever prestar-se.
   O primeiro é o sr. dr. António Brandão Pereira, génio entusiasta e artista, dotado dum profundo sentimento estético, e de uma delicadíssima crítica em matéria de gosto, e a quem o monte do Bom Jesus deve a completa transformação que o tornou o paraíso do Minho.
   O segundo é o sr. Manuel Joaquim Gomes, o ousado iniciador do plano inclinado, que tanto facilita o acesso a este paraíso, e que só, não ajudado de quaisquer recursos materiais alheios, teve suficiente crença nos resultados da ciência, e suficiente amor e desinteresse pela sua pátria para sacrificar-se no lugar do supremo sacrifício, e levar avante esta obra única na península.

   Resumindo o prólogo da história do estabelecimento deste plano, foi um primeiro projecto elaborado pelos hábeis engenheiros Munhoz e Schiappa Monteiro; mas não sendo aceite este projecto em atenção a determinadas questões económicas, foi entregue à Agência Industrial, pertencente aos srs. Redpath & Kopke de Carvalho, o estudo de um novo plano. O sr. António Maria Kopke de Carvalho, engenheiro bem conhecido no país, estudou proficientemente a questão e aconselhou a adopção do sistema já em uso no Gmessbach e de que é autor o ilustre engenheiro suíço Riggenbach, e estando ambos de acordo na questão técnica, foi todo o material construído nas oficinas do Central Suisso, tomando conta do estudo da linha e da direcção da sua constrição, o engenheiro Raul Mesnier, que a levou felizmente a cabo, inaugurando-se a linha a 25 de Março do presente ano de 1882, com um entusiástico e numeroso concurso de espectadores.

   Passando à descrição técnica do sistema, deixamos a palavra aos ilustres engenheiros nomeados pelo governo português para vistoriar o plano inclinado antes da sua abertura à circulação.

AUTO DE VISTORIA FEITA AO PLANO INCLINADO AUTOMOTOR CONSTRUÍDO JUNTO AO SANTUÁRIO DO BOM JESUS DO MONTE , SUBÚRBIO DE BRAGA       

Aos vinte dias do mês de março do ano de mil oitocentos e oitenta e dois pelo meio dia, no sítio do Bom Jesus do Monte, próximo à cidade de Braga, reuniram-se os engenheiros Henrique Guilherme Thomaz Branco, director das obras públicas do distrito de Braga, Augusto César Justino Teixeira, director da exploração dos caminhos de ferro do Minho e Douro, e Augusto Luciano Simões de Carvalho, director da construção dos décimo oitavo e décimo nono lanços do caminho de ferro do Minho e da ponte internacional sobre o rio Minho, para o fim de, em conformidade com o despacho de quatorze do corrente, comunicado nesta mesma data aos referidos engenheiros, por ofício da Direcção Geral das Obras Públicas e Minas, procederem ao exame do plano inclinado automotor ali construído por empresa particular e reconhecerem se está em circunstâncias de ser aberto à circulação pública. E logo em seguida, dando princípio ao trabalho da sua comissão, observaram que o princípio fundamental do sistema era o aplicado com locomoção a vapor no caminho de ferro da Suíça, denominado de Rigi; dois carros conjugados por um cabo, sobem e descem alternada e simultaneamente em duas vias paralelas, assentes sobre um plano inclinado, havendo entre os carris de cada via e segundo o eixo um terceiro carril em forma de escada de mão, entre cujos degraus os carros em movimento vão introduzindo os dentes de duas rodas, colocadas no meio dos eixos das rodas ordinárias; o equilíbrio e o movimento do sistema são determinados pelo peso da água, que no alto do plano é adicionada ao carro descendente em tina também subjacente ao estrado. O plano inclinado, que vai em alinhamento recto desde um ponto próximo ao portal da antiga escadaria do Santuário até o adro da igreja, vence uma altura de cento e dezasseis metros em duzentos e vinte metros de extensão horizontal por meio de traineis, que atingem o máximo de quarenta e cinco centímetros por metro.A parte em aterro é fortificada transversalmente com maciços de alvenaria, que se sucedem de quarenta em quarenta metros, e a parte em escavação é cortada em rocha dura de granito, na qual são pela maior parte engastadas as travessas da via. Entre uma e outra parte a via atravessa obliquamente a estrada ordinária de acesso ao Santuário em passagem superior, constituída por sólidas vigas de ferro laminado. ligadas duas a duas por fortes contraventamentos, encontradas inferiormente por maciços de alvenaria de cimento, cuja aparência é de grande robustez, e livres superiormente para os efeitos de dilatação devidos à temperatura. A estrutura da via, cuja bitola é de um metro quatrocentos e trinta e cinco milímetros, é formada por travessas de carvalho tipo Gerês, espaçadas de metro a metro, e carris vignole de dezoito quilogramas por metro corrente, fixadas por escapulas, alternadamente por dentro e por fora da via de travessa para travessa,  excepto na passagem dos maciços, em que a pregadura é dobrada. O escorregamento longitudinal da via, já prevenido pelos maciços de alvenaria e pelo engastamento das travessas na rocha, é ainda obstado por duas linhas de ferro em |___| deitado, as quais reinam em toda a extensão por fora da via e ao lado de cada carril, fixas as travessas por meio de parafusos. O carril central, composto por duas peças de ferro em |___| postas de cutelo com os rebordos para fora e reunidas pelos travessões de endentamento, é exactamente segundo o modelo de Rigi. No ponto culminante, e sobre um maciço de alvenaria de suficientes dimensões, gira a grande roldana, em cuja gola passa o cabo de ligação dos veículos, conforme a disposição geralmente adoptada nos planos auto-motores, excepto na parte relativa ao travamento do sistema, que no Bom Jesus vai todo nos próprios veículos, servindo assim não só para moderar as velocidades nas condições de andamento normal, mas também para obviar à queda em caso de ruptura do cabo.
O cabo é formado por sete feixes de fio de arame de aço de dois milímetros de diâmetro, e cada feixe composto de dezanove fios, o que para os cento e trinta e três fios de toda a trança dá a superfície de quatrocentos e dezoito milímetros quadrados. A conjugação do cabo ao carro é obtida segundo a prática americana, semelhante ao que vimos empregado na montagem do arco da ponte Maria Pia: as extremidades dos fios inflectidos, como nas escovas, e unidos por uma liga duríssima de metal branco, formam um cone, o qual introduzido no orifício igualmente cónico de uma grossa chapa de engate, faz com que da tensão de cabo resulte um crescente apertamento. Supondo a carga máxima de treze mil quilogramas, correspondente às circunstâncias mais desfavoráveis, que provavelmente jamais concorrerão na prática, isto é, cinco mil quilogramas do peso do carro, cinco mil do peso da água, de que é capaz a tina, mil e quinhentos de peso de vinte e cinco passageiros, para que são lotados os carros, e finalmente mil e quinhentos de peso do cabo; da máxima rampa de quarenta e cinco por cento resultaria para a componente paralela o valor de cinco mil oitocentos e cinquenta quilogramas, ou para o cabo um trabalho de quatorze quilogramas por milímetro quadrado, inferior ao limite admitido mesmo para o arame de ferro, e seis vezes inferior ao esforço de ruptura, o que dá sem dúvida a conveniente garantia de segurança.
Os travões, anexos ao carro, como já foi dito são dois: um manual, a cargo do condutor do carro, actua sobre tambores juntos às rodas centrais, anterior e posterior, por meio de cepos dentados, que se aplicam sobre caneluras abertas nos mesmos tambores; o segundo automático, actua do mesmo modo, sobre o tambor da roda anterior desde o momento em que cesse a tensão do cabo e deixe de funcionar o primeiro. Tanto o material fixo como o circulante provem das oficinas de Oltem, na Suiça, dirigidas pelo hábil e conhecido engenheiro Mr. Riggembach, cujo nome ficou vinculado ao engenhoso e ousado cometimento de Rigi, e que ytem construído e está construindo outros planos automotores semelhantes em condições mais e menos difíceis.
A comissão porém, não obstante serem reconhecidos o crédito do construtor, a boa execução do material, e o cuidado com que são combatidos os efeitos da grande inclinação do plano, depois de ter feito funcionar o sistema e de o ter experimentado pessoalmente numa viagem completa de ida e volta, a qual correu com toda a regularidade, não podia deixar de exigir uma prova indispensável, tendente a demonstrar praticamente a eficácia do travão automotor, o qual só funciona em caso de sinistro. Para realizar esta prova foi travado e calçado o carro descendente no alto do plano, e por meio de um guincho e respectivos aparelhos foi suspenso o carro ascendente sobre o mesmo plano e acerca de trinta metros do topo inferior. Deixando assim de funcionar o cabo de arame e tomando conta do travão manual o sr. Raul Mesnier, encarregado dos trabalhos de construção, o qual espontaneamente e com toda a confiança se sujeitou a esta prova.
De um só golpe, foi cortada a corda do guincho, e o carro entregue à acção da gravidade. Imediatamente desceu o contrapeso do travão automático e o carro a menos de um metro de distância parou de repente. Esta experiência realmente satisfatória foi presenciada por grande número de pessoas, que na ocasião afluíram ao local. Parecendo portanto que o plano inclinado automotor do Bom Jesus do Monte está em circunstâncias de ser aberto à circulação pública, assim o declara a comissão..."

Quase tudo na mesma... faltam as águas puras e cristalinas. Valia a pena um esforço para recuperar esse aspecto.
                                                          
       
              



quinta-feira, 13 de setembro de 2012


Coisas de Braga que correm (ou correram) o mundo.

Para quem é dado ao colecionismo, os selos do correio são, um dos mais apetecíveis temas para colecionar. Embora para algumas pessoas, possa ser uma absoluta perda de tempo, importa contudo referir que é também uma boa forma de aprender alguma coisa sobre a história de Portugal e do mundo.
Como bracarense, estou sempre atento a selos que sejam emitidos, alusivos à nossa cidade e não é por acaso que, há cerca de três ou quatro anos, enviei um mail, para os CTT, setor de filatelia, a reclamar em jeito de sugestão, o facto de, tendo-se completado 125 anos em 2007 do elevador do Bom Jesus, não se ter aproveitado a ocasião para registar a efeméride ao nível da filatelia, tanto mais que nunca havia sido emitido qualquer selo com aquela temática.
Pois bem, não sei se fruto desse meu desabafo, é certo que em 17.05.2010 saiu uma coleção com o tema “Elevadores públicos de Portugal” composta por oito selos, um dos quais alusivo ao nosso elevador do Bom-Jesus.
Foi assim este tema que escolhi para este novo artigo que aqui coloco. Lembrei-me de colocar aqui, todos os selos emitidos em Portugal, alusivos ou relacionados diretamente com a nossa cidade.

1952 – 1.º centenário do Ministério das Obras Públicas – “Estádio 28 de Maio”

1964 – 1.º Centenário do Sameiro

1974 – Paisagens e Monumentos

1982 – Visita a Portugal de Sua Santidade o Papa João Paulo II

1989 – Datas da História de Portugal – 9.º Centenário da Sé de Braga

1996 – Brasões dos Distritos de Portugal

2003 – UEFA Euro 2004

2004 – UEFA Euro 2004 – “Cidades anfitriãs”

2004 – Estádios do EURO 2004

2007 – Arquitetura Contemporânea Portuguesa – Eduardo Souto Moura

2010 – Elevadores Públicos de Portugal

2011 – Final da Liga Europa

2012 – Rota das Catedrais Portuguesas