quinta-feira, 9 de maio de 2019

A história de Braga contada por calendários de bolso (9) - O "Cabeça Negra"



Casa de Ferragens - Cabeça Negra

Recordo a sua existência no Campo da Vinha. Das várias lojas de ferragens aí existentes era, das que me lembro, a mais antiga. Amplo balcão de madeira gasta, sempre muita clientela e vários empregados a atender. 
Recordo ainda um empregado desta casa e quando era eu um miúdo e sempre que ia acompanhando os meus pais nas suas compras, era sempre muito brincalhão comigo. 
Sem perceber nada da vida e ainda menos das muitas dificuldades com que então as pessoas se deparavam, triste fiquei quando soube que esse tal empregado iria emigrar para a Alemanha. Ser empregado comercial, antes do 25 de Abril, a exemplo de muitas outras profissões, era um ganha-pão insuficiente para quem pretendia oferecer aos seus uma vida um pouco mais desafogada e com algumas ambições. E o comércio não seria seguramente o local mais indicado para obter a melhor compensação pelo trabalho desenvolvido. 
Mas voltando à casa em causa, o Campo da Vinha terá sido um local privilegiado para o aparecimento deste tipo de casas porque atendendo aos produtos que vendiam e à localização da feira semanal que chegou a ter lugar naquela grande praça, bem como era ali que grande parte das camionetas de carreira terminavam a sua viagem provenientes de outras paragens, estava criada a simbiose perfeita para que uma casa destas e todas as que ali se instalaram, nascessem, criassem nome e tivessem sucesso.  
Esta casa ficou ainda conhecida pelos bracarenses devido a algumas figuras, ainda contemporâneas, ligadas às modalidades amadoras, com maior expressão no andebol, no futebol de salão e no atletismo, que eram conhecidos pelos "cabeça negra" e que tinham um jeitaço para o desporto, em alusão a esta casa, de quem tinham uma relação familiar.
O fundador da casa foi José Vicente de Sousa Ribeiro e o seu imediato sucessor terá sido o seu filho Joaquim Estanislau que veio a falecer já em 1977.
Apenas encontro este calendário de 1985, que coincide com o último ano de actividade da casa e que por isso acaba por ter o seu valor histórico.
Pena que esta casa não tenha conseguido chegar a festejar o seu centenário e hoje, quem sabe, poderia ter outros incentivos para continuar, porque seria certamente marcada como uma loja com história, que mesmo assim, podemos dizer que foi.

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