terça-feira, 1 de maio de 2018

Braga na segunda metade do sec. XX - História contada por calendários (5) - A fábrica do "Onça"

Dificil é falar daquilo que pouco se conhece, mas mesmo assim, vou tentar fazê-lo.
A indústria da metalurgia foi um sector com bastante expressão na cidade de Braga. Passando pelas empresas de maior dimensão como os  Sarotos,  Ramoa, Pachancho, ETMA, e por tantas outras de menor dimensão  que me habituei a ouvir falar, o "Onça" foi sempre uma empresa sempre presente e que se destacou no ramo (principalmente acessórios para automóveis e material sanitário metálico), e que me parece terá sido também a "escola" de muitos operários bracarenses.
É frequente ouvir pessoas que referem ter trabalhado no "Onça" e também em outras fábricas do sector.
O fundador da fábrica  terá sido João Carlos Teixeira de Araújo, o "Onça" que em 1927 criou uma pequena fabriqueta na Rua de Santo André, nr. 58 (em 1954 adopta forma societária com os seus seis filhos, Domingos, Manuel, Mário, José, Casimiro e Isaura - DR III série, de 11/1/1955) tendo criado a marca "Onça" em 1934. Posteriormente, em data não apurada, passa a sua actividade principal para a freguesia de Nogueira.
Está assim explicada a razão pela qual, desde miúdo ouvia falar nos "Onças" e da fábrica "Onça". A avaliar pela quantidade de pessoas que conheço e que manifestam terem ligações de parentesco ou de amizade com vários "Onças", atrevia-me a dizer que seria uma família relativamente numerosa, pelo menos ao nível da descendência, o que na realidade acabo agora por verificar.
Uma curiosidade que me assalta é perceber porquê "Onça". Como surgiu esse nome e será que tem alguma relação com o ramo a que o empresário se veio a dedicar? 
Parece-me ainda que seria inteiramente merecido perpetuar e de assinalar a importância deste sector e dos seus empresários na Braga do séc. XX, competindo aos nossos autarcas ver a melhor de o fazer.
Por cá, estuda-se Braga enquanto cidade romana, fala-se de outras indústrias como a saboaria e a chapelaria, mas aqui está também um tema a merecer, se calhar, um estudo a um mesmo nível (arqueologia industrial, direi eu), e que pode ser concretizado em publicações que façam a história desta indústria e dos seus empresários, tal a importância relativa que teve para a região de Braga durante um longo espaço de tempo. E seria conveniente não deixar passar muito tempo, no sentido de aproveitar o contributo daqueles que, ainda em primeira mão, conviveram com os seus principais protagonistas.
O meu contributo para a família "Onça", não sendo exaustivo, são este conjunto de calendários que a seguir apresento. São calendários com bastante qualidade e que certamente mostram o cuidado que havia com a imagem da empresa, de onde se destaca também a obtenção de prémios de qualidade, na década de 80.


 
 
 
 










 


10 comentários:

  1. Boa noite.
    Adorei ler este seu post, partilhado no página do FB da minha irmã, e gostaria de o informar que o meu pai era um dos filhos do fundador, meu avô.
    Estou grata por ter escrito uma pequena história da minha família paterna, ainda temos um tio vivo, o Manuel, que andará pelo 92/93 anos, trabalhei, também nesta empresa, de 1975 a 1990, saí neste ano para o ensino, visto que frequentei a Universidade do Minho como estudante trabalhadora.
    A história do "Onça" que chegou até mim, foi que o meu avô, que adorava contar histórias, fora para África e um dia deparou-se com uma onça e matou-a.
    Há uns anos perguntei ao meu tio, que referi, se fora verdade a história que o pai contara, mas ele respondeu-me que não.
    O que é certo é que existe um cabeça de onça ma parede da então gerência da empresa.
    Mais tarde, foi feito um busto que foi colocado no exterior, junto a um pequeno jardim do lado direito quem sobe a rampa de acesso às instalações.
    Desde que saí da empresa em 1990, penso que fui lá uma ou duas vezes, talvez nesse mesmo ano, ou no ao seguinte, nunca mais lá voltei.
    Não sei se, quer a cabeça da onça, quer o busto do meu avô ainda existem.
    Da família Onça,ficou na empresa um primo, que ainda trabalha na que é agora Jado Ibéria.
    Os meus irmãos ficaram mais alguns anos, saíram depois de a Onça deixar de o ser.
    Também há uns anos, encontrei num blog algo sobre a Onça e lamento muito que nós, os netos que trabalhamos lá durante anos, nunca tivéssemos tido esta peculiaridade de guardarmos algo tão valioso como estes calendários, e que agradeço, de coração, tê-los guardado e mostrado neste seu blog.
    Há uns anos, também descobri num blog uma história da empresa "Onça", no blog com o este link (http://rodasdeviriato.blogspot.com/2013/06/joao-araujo-onca-e-filhos-lda-catalogo.html )
    com outras imagens que me trouxeram saudade e orgulho na minha família.
    Fiz um post sobre o assunto que pode ler aqui, se assim o desejar:

    https://cantinhodacasa.blogs.sapo.pt/um-retrato-de-famiia-738288#comentarios

    Muito obrigada pelo excelente texto que dedicou à minha família paterna, quem sabe um dia destes possa enviar algumas fotografias que tenho no álbum daquelas exposições que se faziam no antigo Parque de Exposições, primeiro na Feira Agro de Braga e uns anos mais tarde separaram-se as feiras e passou a haver uma de acessórios para automóveis e artigos industriais. Penso que nesta já incluíamos os artigos sanitários.
    Mais uma vez, obrigada.
    Maria Araújo

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    1. Boa noite
      Foi com imenso agrado que li aquilo que carinhosamente escreveu e que por isso mesmo agradeço também.
      Na verdade, estes calendários como todos aqueles que aqui tenho postado, resultam do prazer que o meu pai tinha e tem em coleccionar estas coisas, que lhe pertencem, e que desde pequeno sempre me habituei a presenciar e participar no seu esforço de angariação e conservação.
      Achei que a parte útil e interessante do fenómeno coleccionista poderia ser mostrar que também é possível, através disso, contar a história da nossa cidade, provocando sensações e reacções, no sentido de permitir aos verdadeiros conhecedores, cada um por si, completarem aos poucos essa mesma história.
      É evidente que, sendo eu um miúdo, à época, só posso contar que sempre tive a noção que a fábrica "Onça" era algo de muito importante para a cidade.
      Conheci bem o Sr. José Ribeiro(grande amigo de meu pai) que sei estava ligado aos "Onças" (não sei de que forma) e outro grande amigo meu e do meu pai que é o Sr. Mário Barbosa ainda fala muitas vezes dos seus primos "Onças". Atrevo-me até a pensar que estes calendários terão sido entregues em mão, por um qualquer dos "Onças" sabedor do interesse do meu pai em coleccionar os ditos calendários.
      Esta é a minha pequena realidade, mas que foi suficiente para entender que estava na presença de algo assinalável e que merecia os seu destaque.
      Por isso, quando me deparei com estes belos exemplares dos calendários, tratei logo de os publicar, esperando que alguém pudesse dar algum contributo para que esta empresa não caia no esquecimento.
      E continuo a pensar que os empresários bracarenses deste ramo industrial mereciam uma forma de serem perpetuamente lembrados.
      Por isso agradeço imenso o seu contributo, e gostei de saber que este meu pequeno gesto em querer perpetuar alguma destas memórias, lhe provocou muita satisfação. Só por isso já valeu a pena.
      Obrigado da minha parte.
      Carlos Viana

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  2. Muito obrigada pelo comentário ao meu, também, comentário.
    Sim, o senhor José Ribeiro e o Senhor Mário Barbosa seriam familiares ( primos) dos meus avós, pelo menos o senhor Mário, porque a minha avó tinha Barbosa num dos apelidos.
    Mais uma vez, fico grata pelo que aqui li, é um grande prazer ler as pequenas histórias dos nossos familiares.
    Fiquei encantada com os textos que li, e congratulo-o por não deixar morrer o que fez, e algumas ainda fazem, parte da nossa indústria de Braga.
    Uma das minhas sobrinhas leu no FB esta sua história, partilhou-me o orgulho que teve, pois a mãe, minha falecida irmã, que trabalhou muitos anos na Onça, falava-lhe com muito carinho desta que foi a empresa da família e uma das melhores da cidade.
    Agradeça por mim, a seu pai, esta preciosidade em conservar os belíssimos calendários da nossa empresa e de todas as outras desta bela cidade de Braga que, infelizmente, foi invadida por centros comerciais e hipermercados que levaram do centro o que de melhor tínhamos: o comércio de rua.
    Boa noite.
    Maria Araújo

    P.S.:
    Com tempo, vou ler o que tem publicado desde 2012.



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  3. Obrigado pelo historial que fez da firma Onca onde trabalhei a partir dos 14 aos 17 anos, (1962-66) tanto na Rua de St Andre como em Nogueira, como aprendiz de cunhos e cortantes, tendo como encarregado o Anibal, o meu professor naquela arte. Despedi-me porque me davam um salario ridiculo (so chegava para pagar o almoco na cantina) quando eu ja fazia trabalhos complexos. Mudei-me para a Ramoa porque me ofereceram o triplo do que ganhava na Onca. Quando disse ao Manuel Araujo que me ia embora ele disse-me eu devia ter-lhe pedido aumento antes e eu respondi-lhe que era competencia dele, como meu chefe, dar valor ao meu trabalho.
    Tambem nao estive muito tempo na Ramoa. O meu encerregado um dia deu-le uma bofetada (tambem recebi ate pontapes do Manuel Araujo, que ele era muito generoso em distribuir) mas recebeu em troca um murro bem merecido. Fui despedido, claro, o caso indo para tribunal e de ordem de compensacao pelo despedimento injusto.
    Ha uma particularidade que me veio agora a memoria: quando uma manha o patrao Araujo, pai, entrou na seccao de cunhos e cortantes eu tive um pressentimento estranho e disse aum colega (Azevedo, que re-encontrei anos depois na tropa) que o patrao ia morrer. Eu nao sabia nada do seu estado de saude que me levasse a tal previsao, mas pelo seu aspecto (cor da face arroxeada) fiquei com aquela impressao. Assim foi, ele faleceu no dia seguinte (tera sido no ano de 1965, mais ou menos). Fui a missa, como todos operarios, de corpo presente na igreja de Sao Marcos.
    Um pequeno retalho para a manta da sua historia amigo autor.

    Joaquim Fernandes

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    1. Como aditamento ao comentario antecedente veio-me a memoria certas facetas dos trabalhos que executava ja aos 17 anos. Devido a guerra, o estado distribuia por muitas fabricas metalo-mecanicas encomendas para pecas para armamentos e outros materiais de guerra. Na Onca faziamos alguns dos componentes que seriam posteriormente montados nos artigos finais em Braco de Prata e outros estabelecimentos congeneres. Um dos ultimos trabalhos em que participei foi a ferramenta para fabrico de minas anti-pessoal, as bailarinas, no maior balance (prensa) que tinhamos.
      Fazia-se coisas quase estraordinarias para a nossa pequena capacidade industrial. As escondidas, copiavamos maquinaria alema de alta qualidade, incluindo maquinas de precisao (rectificadoras?) muito automatizadas. O Casimiro era o espiao que ia por vezes a Alemanha fazer estagios e outros assuntos. Dei-me sempre bem com ele: quando pecas das tornos automaticos pereciam era eu que fazia as substituitas. O Manuel era o mais duro, tipo condutor de escravos, e batia em qualquer operario que ele proprio enervava, donde resultavam erros, colocando-se a sua frente durante muitos minutos de cabeca estendida e pescoco esticado enquanto eles trabalhavam! Numa ocasiao em que ele se pos de plantao a minha frente quando eu trabalhava com a rebarbadora (?) mandei-lhe uma chuva de faiscas.
      Se me lembrar de mais peripeccias semelhantes volto a carga.
      Saudacoes e ate ja.
      Joaquim Fernandes

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    2. Obrigado Sr. Joaquim Fernandes pelos seus interessantes contributos. Revelou acontecimentos curiosos, alguns só possíveis noutros tempos e que merecem reflexão. Seja bem vindo a este espaço de partilha.

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  4. Escrevi outro comentario, sobre o ditado "Es de Braga..." mas parece-me que se extraviou no "cyberspace". Nele referi-me a estranheza da palavra "bonda" que nunca vi ou ouvi e, nesta questao sou categorico. Por qualquer lado por onde andei e onde vivi - e onde frequentemente era conhecido pelo apelido de "Braga", por obvias razoes (incluindo o habito - de proposito - de deixar portas abertas para acentuar a minha naturalidade!) desde Porto, Caldas, Leiria e Lisboa, entre outras, so ouvi a pergunta "Es de Braga?" e eu dizia the sim como justificacao e licenca do privilegio de deixar portas abertas!

    Fiz ainda uma pequena excursao ao trajecto que me levava diariamente de casa a escola da Se, no largo das Carvalheiras (estavam a construir uma nova escola ali ao lado, no Horto) e passava sob o Arco da Porta Nova, que era mais conhecido no vulgo por Arco da Porta Aberta, assim como aquela rua era conhecida por Rua Direita. (Roubam a historia popular quando dao nomes de pessoas aos espacos publicos, como que privatiza-los).
    Saudacoes
    Joaquim

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  5. Boa noite

    Encontrei estes comentários, quando pesquisava sobre João Carlos Teixeira de Araújo, pois estou a fazre a Árvore Genealógica de meu neto, Vicente Araújo de Vasconcelos d'Ordaz Rolão, filho de Eva Araújo de Vasconcelos, filha de Filomena da Graça Veiga Araújo, filha de José Teixeira de Araújo, filho de João Carlos Teixeira de Araújo e de Antónia da Conceição Barbosa de Araújo. No pedido de passaporte, vem referido que João Carlos era da Fregursia de São Victor, Braga e filho de José Manuel Teixeira de Araújo e de Teresa Fernandes de Araújo. É tudo quanto sei. Agradeço qualquer informação que me permita continuar, pois não os encontro na Freguesia indicada. Qualquer informação, se disponível pode ser endereçada a manuel.rolao@gmail.com
    Desde já agradeço
    Cordiais cumprimentos
    Manuel da Silva Rolão

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  6. Boa noite,

    Estou a fazer a árvore genealógica para saber se tenho família que não conheço. A Minha avó Isaura era uma das filhas Onça,mas penso que já não tem irmãos vivos. Tem alguma informação sobre se existe ainda família ? Melhores cumprimentos

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  7. João Carlos Teixeira Araújo "Onça" - nasceu em 06/02/1901, Rua Sta Margarida, S. Victor - casou com Antónia Conceição Rodrigues Barbosa em 29/10/1921 CRC Braga - faleceu em 17/01/1965.

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